O desafio de conter a superpopulação e o abandono dos animais nas cidades brasileiras, por Ângela Caruso





Para controlar a população de cães e gatos, diminuir a ocorrência de agravos, o risco de transmissão de zoonoses, o recolhimento e a eliminação de animais pelos Controles de Zoonoses do país; a intolerância pelos cães e os gatos por parte da sociedade, fazendo com que essa rejeição contribua para o excessivo número de animais abandonados e vitimados por maus-tratos, fica desafiado o Poder Público a trabalhar na prevenção e no controle animal com vistas à saúde humana, animal e ambiental ampliando as ações de controle reprodutivo por método cirúrgico – extensiva e gratuita aos proprietários de baixa renda - facilitação do acesso às vacinas V8, V3 e contra a Raiva, tratamento das doenças de pele, controle de endo e ectoparasitos, registro e identificação por método eletrônico, e notadamente, a realização de atividades educativas continuadas e pactuadas entre os municípios e os estados.


Os gestores públicos devem reconhecer que a promoção da saúde estreita a sua relação com a vigilância em saúde nas ações que reforçam a mudança de comportamento da sociedade, amplia a compreensão de bem-estar animal, a responsabilidade e o direito a qualidade de vida.


O maior desafio que uma política pública de saúde animal deverá enfrentar é a formação do vínculo do animal na família. Se atentarmos para uma sociedade que exclui parte expressiva de animais por ela produzidos, não podemos esperar que vá tratá-los de maneira adequada quando adoecem, envelhecem ou necessitam de cuidados especiais. Sabemos que não é automático e imediato, pelo contrário, é gradativo, e, portanto, necessita de tempo, investimentos e vontade política para a construção desse novo comportamento social.


Animais vinculados às famílias atendem aos preceitos de controle de saúde. É um forte aliado para o envelhecimento da população animal, o que garante o processo de imunização pela prática da vacinação anual. Reorganiza o censo animal nas cidades capacitando uma rigorosa ação de responsabilização dos proprietários no formato de tríade: acolher, vincular e responsabilizar.
Vejo como um desafio também, a divisão de responsabilidades que deve ter como “ponto de partida” à eficiência do Poder Público em atender a comunidade na assistência e orientação para a convivência com cães e gatos. Rigor no esclarecimento quanto às divergências de informações e uniformidade das normas e diretrizes do processo implementado e planejado com as atividades práticas e educativas, bem como na escala de tarefas deve ser aproveitado o talento e a experiência dos profissionais da área da saúde, organizações não governamentais, voluntários e agentes comunitários.
O tripé cultura-estrutura-capacitação deverá estar presente nos princípios que nortearão uma política objetiva para controlar o nascimento de cães e gatos.


Os agentes sociais da saúde animal – médicos veterinários - devem assumir e difundir que a castração, inclusive de animais jovens, é saudável, e garante tranqüilidade e longevidade ao animal impedindo que as indesejadas crias sejam dispensadas ou “alocadas” sem nenhum critério.

E o derradeiro desafio se estabelece na criação comercial de animais, importante aliado da superpopulação, seguido da venda indiscriminada, dos abusos impingidos aos animais, sem fiscalização, e a conseqüente compra por impulso.


Frente a essa dura batalha devemos nos lembrar que não se deve desprezar a influência das leis na vida diária das pessoas. Estudos demonstram, de forma interessante, que a motivação por detrás da obediência diária às leis não é tipicamente o medo de punição por ignorar ou desafiar a lei que é à base dos modelos de contenção. Ao contrário, as principais motivações das pessoas para obedecerem às leis são encontradas no caráter ético. Mais que um desafio!


Ângela Caruso
Presidente do Quintal de São Francisco
www.quintaldesaofrancisco.org.br

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